quinta-feira, dezembro 30, 2010

Memórias de Inverno.

Eu brincava, corria, saltava pela casa ao som da máquina, toc-toc, toc-toc, era a minha mãe que costurava. Estava calada, concentrada e perdida no seu trabalho e eu, perguntava-me em que é que ela pensava.
Era Inverno, dia escuro, toc-toc, ouço a máquina outra vez.
É nestes momentos que gostava de ser uma dona de casa prendada.
Dá para acreditar que os meus sonhos de criança eram saber cozinhar e costurar?  

Falhei.

Em 3 anos tudo muda.

Parece-me que hoje já não vou sair de casa. Prefiro perder-me nas memórias do Inverno, das férias de Natal passadas na casa da avó. Aquela meia-luz, o lume, a chuva, o frio, o cheiro a terra molhada, a voz dela que me cantava, o pão acabado de sair do forno.

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Desilusão múltipla

Não suporto essa «dulceza» exagerada, essa hipocrisia nos gestos e palavras.
Ainda estranham se eu digo que não me identifico, se eu sinto que já não pertenço aqui... Como é possível eu sentir-me bem num local onde tudo é forçado, falseado, hipócrita? Não, eu não consigo fingir que está tudo bem. Eu não consigo viver rodeada de mentiras.
Sinto que tudo mudou e eu não, ou que nada mudou e eu mudei... ou simplesmente isto sempre foi assim e eu andei todo este tempo iludida.
Acreditei nas pessoas e ela desiludiram, até aqui nada demais: somos humanos.
O que eu não tolero é esse mundo que me tentam impingir, essa areia que me atiram para os olhos, é a «lata» de saberem que eu sei a verdade e mesmo assim a negarem na minha cara, olhando-me nos olhos.
E apontam-me o dedo, e criticam-me só porque eu não suporto a mentira.

Não me peçam mais nada. Hoje não consigo. Eu não pertenço aqui, nem ali, nem a lugar algum.
(Eu não quero fazer parte disto).

«You're holding my hand but you don't understand.»

As palavras podem quebrar o silêncio, mas não quebram a solidão.

domingo, dezembro 05, 2010

Pilar

Às vezes o nosso pilar desaparece, às vezes até o «eu» que há em nós deixa de existir, mas enquanto há vida temos a oportunidade de recomeçar tudo do zero e, dessa vez há fortes probabilidades de o pilar ser mais forte e resistir, pois estamos mais experientes no que diz respeito a construção civil... esse pilar nunca será perfeito, está sempre a desabar e reerguer-se ...
Não, nunca mais voltará a ser o mesmo, a pessoa não é imune às tempestades, ao tempo, às outras pessoas. Vamos-nos moldando ao mundo, aos outros, às situações e a nós mesmos num processo contínuo.

Por vezes suplico para que o tempo volte atrás, para eu voltar a ser eu, para que aqueles que amo voltem a ser quem são ou quem eram, para que quem partiu possa voltar e nada fique por dizer ou fazer... Suplico e tenho vontade de apagar erros de construção intrínseca, mas mesmo que o pilar desabe e se reerga do zero, os erros continuam lá ou cá (dentro de nós) e deixam a sua marca, a sua pegada, tatuagem ou como lhe quisermos chamar. No fundo é impossível apagar um erro ou fingir que nada aconteceu, porque até fingir seria uma reação causada pelo efeito que tentamos ignorar...
O desafio e dificuldade que a vida nos impõe é de aprendermos a viver com os nossos erros, com a nossa humanidade, aceitá-la e olhá-la de frente.