quinta-feira, dezembro 30, 2010

Memórias de Inverno.

Eu brincava, corria, saltava pela casa ao som da máquina, toc-toc, toc-toc, era a minha mãe que costurava. Estava calada, concentrada e perdida no seu trabalho e eu, perguntava-me em que é que ela pensava.
Era Inverno, dia escuro, toc-toc, ouço a máquina outra vez.
É nestes momentos que gostava de ser uma dona de casa prendada.
Dá para acreditar que os meus sonhos de criança eram saber cozinhar e costurar?  

Falhei.

Em 3 anos tudo muda.

Parece-me que hoje já não vou sair de casa. Prefiro perder-me nas memórias do Inverno, das férias de Natal passadas na casa da avó. Aquela meia-luz, o lume, a chuva, o frio, o cheiro a terra molhada, a voz dela que me cantava, o pão acabado de sair do forno.

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Desilusão múltipla

Não suporto essa «dulceza» exagerada, essa hipocrisia nos gestos e palavras.
Ainda estranham se eu digo que não me identifico, se eu sinto que já não pertenço aqui... Como é possível eu sentir-me bem num local onde tudo é forçado, falseado, hipócrita? Não, eu não consigo fingir que está tudo bem. Eu não consigo viver rodeada de mentiras.
Sinto que tudo mudou e eu não, ou que nada mudou e eu mudei... ou simplesmente isto sempre foi assim e eu andei todo este tempo iludida.
Acreditei nas pessoas e ela desiludiram, até aqui nada demais: somos humanos.
O que eu não tolero é esse mundo que me tentam impingir, essa areia que me atiram para os olhos, é a «lata» de saberem que eu sei a verdade e mesmo assim a negarem na minha cara, olhando-me nos olhos.
E apontam-me o dedo, e criticam-me só porque eu não suporto a mentira.

Não me peçam mais nada. Hoje não consigo. Eu não pertenço aqui, nem ali, nem a lugar algum.
(Eu não quero fazer parte disto).

«You're holding my hand but you don't understand.»

As palavras podem quebrar o silêncio, mas não quebram a solidão.

domingo, dezembro 05, 2010

Pilar

Às vezes o nosso pilar desaparece, às vezes até o «eu» que há em nós deixa de existir, mas enquanto há vida temos a oportunidade de recomeçar tudo do zero e, dessa vez há fortes probabilidades de o pilar ser mais forte e resistir, pois estamos mais experientes no que diz respeito a construção civil... esse pilar nunca será perfeito, está sempre a desabar e reerguer-se ...
Não, nunca mais voltará a ser o mesmo, a pessoa não é imune às tempestades, ao tempo, às outras pessoas. Vamos-nos moldando ao mundo, aos outros, às situações e a nós mesmos num processo contínuo.

Por vezes suplico para que o tempo volte atrás, para eu voltar a ser eu, para que aqueles que amo voltem a ser quem são ou quem eram, para que quem partiu possa voltar e nada fique por dizer ou fazer... Suplico e tenho vontade de apagar erros de construção intrínseca, mas mesmo que o pilar desabe e se reerga do zero, os erros continuam lá ou cá (dentro de nós) e deixam a sua marca, a sua pegada, tatuagem ou como lhe quisermos chamar. No fundo é impossível apagar um erro ou fingir que nada aconteceu, porque até fingir seria uma reação causada pelo efeito que tentamos ignorar...
O desafio e dificuldade que a vida nos impõe é de aprendermos a viver com os nossos erros, com a nossa humanidade, aceitá-la e olhá-la de frente.

sábado, novembro 20, 2010

O nada é tudo

Tenho a Terra, a frescura das ervas nos meus pés descalços, mas os meus olhos teimosos fixam o céu e eu fico com vontade de possuir essa imensidão azul...
Tenho o céu e vôo sem limites, sinto a brisa suave a envolver-me o corpo e a alma, mas os meus olhos teimosos fixam o mar e eu fico, inevitavelmente, com desejo de me perder na ondulação... Já perdida, o meu corpo pede a textura que só a areia da praia me pode dar, mas os meus olhos teimosos fecham de cansaço e o sonho lembra-me que os meus lábios pedem os mal-me-queres que haviam na Terra e os aromas e frescura das ervas nos meus pés descalços...

Não. Não posso ter a Terra, nem o Céu, nem o Mar. Nada é meu, nada sou, nada me pertence e eu não pertenço a lugar algum.

Para ser feliz necessito de um pedaço de terra, de um pedaço de céu,  de um toque da areia da praia, da música do mar e de um sonho que me faça acreditar que é possível experimentar a liberdade.

quarta-feira, novembro 17, 2010

“A nossa riqueza está na nossa diferença”.

Na condição de aluna de uma escola de Ensino Cooperativo, só posso discordar da redução das verbas que o governo irá aplicar às escolas privadas e semi-privadas.

O governo gasta, cerca de 2 mil euros a mais com os alunos do ensino público do que com os do ensino privado - saímos mais baratos.
Reduz custos na EDUCAÇÃO (essencial ao desenvolvimento do país), mas os custos não são reduzidos nos aspectos superficiais (que envolvem sempre os interesses pessoais dos políticos).

É incrível, fala-se da crise e do esforço comum que urge operar para a sua superação, mas o esforço não é comum, os que se esforçam, forçados a isso, são sempre os mesmos. O peixe graúdo, esse não faz mais nada do que dizer o que devemos ou não fazer. A verdade é que o Primeiro-ministro continua a pedir 2 mil euros mensais para carregar o telemóvel...

Entristece-me viver num país assim em que, quem detém o poder se move pelos seus próprios interesses e não em prol do bem geral. (A palavra política está completamente defraudada, assim como toda a palavra).

Não admira que o senhor excelentíssimo Primeiro-ministro José Sócrates vendo a sua licenciatura em Engenharia Civil tão contestada (vai-se lá saber porquê...), desvalorize a educação do país. É de facto, compreensível, vistas as coisas por este prisma.

Agora, não nos esqueçamos que apostar na educação é apostar no futuro, é apostar no desenvolvimento do país, um desenvolvimento a todos os níveis, em que só temos a ganhar.

Não tem cabimento nenhum falar-se de crise e advogar que determinadas medidas são tomadas no sentido de a superar, quando na verdade são essas mesmas medidas que nos impedem de avançar.

«A nossa riqueza está na diferença.» Sim à pluralidade e diversidade! Sim a um país com novos horizontes, com variadas capacidades de resposta aos problemas, com diferentes olhares sobre o mundo.

A diferença enriquece-nos, complementa-nos e é, sem dúvida alguma, a arma mais poderosa que pode haver para fazer frente a qualquer tipo de crise.

Posto isto, não me parece compreensível tamanha idiossincrasia.

quinta-feira, novembro 04, 2010

Entrevista de Ricardo Araújo Pereira a António Lobo Antunes

«Quando, ainda criança, o sr. António Antunes assiste a um cortejo fúnebre e se aproxima da ideia da morte pela primeira vez, a prima põe-lhe a mão na testa e diz: «Quando cresceres compreendes» (página 31). Mas ela está a mentir, não está? Nós nunca compreendemos.


Nunca compreendemos. Há uma história engraçada do Walt Whitman. Ele estava num velório e havia uma criança ao pé dele. Agarrou na miúda, mostrou-lhe o caixão e perguntou: «Tu não percebes? Eu também não.» É uma incompreensão perante a morte... Eu nunca tinha visto morte. Vi esse enterro de criança, em Nelas, e não voltei a vê-la: eu era o filho mais velho de dois filhos mais velhos, os meus avós tinham 40 anos. Só voltei a vê-la quando entrei na faculdade de Medicina, no teatro anatómico, tinha acabado de fazer 17 anos. E pensei: não sou capaz de ver, não sou capaz de olhar. É uma total incompreensão para mim.





Escrever sobre a morte é um modo de tentar compreender?

Nunca ninguém morre nos meus livros, passam é a viver de maneira diferente. O meu pai, depois de morrer, continuou a mudar, a existir dentro de mim. E continuámos a falar. Até que chega uma altura em que estamos em paz e o nosso diálogo é de tal maneira perfeito que nem sequer necessitamos de palavras. E depois sentimos que estamos a viver também por eles. Eu estou a viver pelas pessoas de quem gostei e que, para mim, continuam vivas. Mas, ao mesmo tempo, quando escrevemos, estamos tão ocupados a resolver os problemas técnicos que não sabemos muito bem para onde estamos a ir. Claro que não é escrita automática, mas... Estamos a querer dizer a vida toda. E, no fundo, talvez seja a única maneira que nós temos de vencer a morte. Não sei. Há uma coisa muito mais importante do que o talento: é a bondade. E como, para mim, o defeito mais grave é a ingratidão, a única coisa que eu sempre achei que tinha era a capacidade de escrever coisas em que pudesse dar às pessoas de quem gostava aquilo que não era capaz de lhes dar. Por pudor, por vergonha, por cobardia, talvez, por estupidez. Está a ver? Tomem lá, isto sou eu. Tomem. É para vocês. É um presente que eu fiz. Quando um dos meus irmãos era pequenino, o meu pai fez anos e o presente que o miúdo lhe deu foi uma torrada embrulhada num guardanapo de papel. Nunca vi o meu pai tão comovido. Uma vez, uma das minhas filhas, quando era pequenina, deu-me 25 tostões, nos meus anos. Foi o melhor presente que me deram. Estou a dizer isto e estou a comover-me porque [pausa] nunca me deram tanto dinheiro.





Há um momento no livro em que o sr. António Antunes diz: «Não faz sentido eu morrer» (pág. 53). Na crónica que publicou aqui, na Visão, depois de ter sido operado, António Lobo Antunes escreveu: «Quero ficar sozinho a medir isto, a minha doença, a minha mortalidade, o meu pasmo.» Tanto o autor como a personagem são tomados pelo mesmo espanto. A morte é a circunstância mais corriqueira da existência, mas surpreende-nos a todos.

O que senti nessa altura foi: «Estão a brincar comigo, não sou eu. Um cancro? Não.» Mas quando comecei a pensar em escrever o livro decidi fazer uma coisa que nunca fiz: usar uma falsa terceira pessoa. E jogar com os tempos. Porque a carga emocional era tão forte que tinha de me servir de uma série de artifícios técnicos para me ser menos penoso escrever. Para não me comover tanto, para não me emocionar tanto, para não sofrer tanto.





Interpor um filtro de técnica entre o coração e página.

Exactamente. Embora, para escrever, tenhamos de ter o coração aberto mas, ao mesmo tempo, todo o conhecimento. Quando eu acabei o curso, havia um professor de cirurgia que era muito bom. Dizia o que tinha a dizer e depois: «Agora esqueçam tudo e vão lá para dentro.» Porque o conhecimento técnico acaba por ser internalizado. E nós, quando estamos a escrever, estamos a aprender a escrever, também, porque qualquer livro bom é um livro sobre como escrever. Qualquer bom escritor está a ensinar-nos a lê-lo. Por exemplo, eu aprendi a ler o Conrad com o Conrad. Ao princípio, não percebia nada, parecia-me uma confusão. O Gogol. Aprendi a lê-los com eles. O Dylan Thomas, que, à primeira vista, parece uma catadupa de imagens sem sentido. E não é. É muito mais que isso, somos nós todos. E então, a minha gratidão para com os artistas é imensa. A melhor crítica de pintura que eu conheço foi feita quando o Théophile Gautier foi ao Prado ver As Meninas. O gajo olhou e disse: «Mais où est le tableau?» Onde é que está o quadro? É quando o livro deixa de ser livro para se tornar nós - nós, leitores. Acontece-me tanto. Às vezes a gente descobre um bom escritor. Descobri, há relativamente pouco tempo, o Cormac MacCarthy. Muito bom. O Kosztolányi, o húngaro. Muito bom. Eles escreveram só para mim. Os outros exemplares trazem coisas diferentes. Eu não gosto de emprestar livros, porque o meu exemplar é que é. Como acho que O Monte dos Vendavais foi escrito só para mim. Ela está a falar comigo, ela conhece-me. Ela conhece-me.





Há outro livro de um escritor português - aliás, seu amigo -, José Cardoso Pires, também escrito a partir de uma situação em que o autor se confronta com a morte, que se chama De Profundis, Valsa Lenta. «De profundis» são as primeiras palavras do salmo 130. «Sôbolos rios que vão» são as primeiras palavras de um poema de Camões que é uma glosa do salmo 137. É uma coincidência que dois ateus, quando colocados perante a morte, invoquem a Bíblia?

Eu acho que não há ateus. Não há, não acredito que haja. Há um provérbio húngaro muito antigo que diz: «Não há ateus na cova no lobo.» E há outro que eu acho do caraças, que é: «Qualquer bocadinho acrescenta, disse o rato, e fez chichi no mar.» É magnífico, não é? Talvez seja isso que nós fazemos. Fazemos chichi no mar mas, porra, acrescentámos. Isso dá-nos algum consolo. Mas são duas situações muito diferentes. O Zé podia ser meu pai, quase, e, no entanto, era o melhor amigo que eu tinha. Era um homem excecional. Telefonava todos os dias. Era um homem duro, cheio de arestas. Uma vez mostrou-me uma coisa do Redol, que era uma pessoa que ele admirava muito. Eu lia os livros do Redol e não gostava nada. E um dia percebi. Ele mostrou-me uma carta que o Redol, que estava a morrer em Santa Maria quando eu era estagiário, lhe escreveu. Uma carta em papel timbrado de um hotel. O timbre era uma coisa muito pomposa. E o Redol despede-se. Zé, nunca mais te vou ver, fui muito teu amigo, e tal...P.S.: Já viste papel de carta com mais mania? O Zé disse: «Foi a única vez que eu chorei como uma criança.» E o Zé, quando chega a altura do De Profundis, escreveu aquele livro pequeno porque já não era capaz de o escrever grande. Foi muito diferente disto, porque eu estava cheio de força quando estava a escrever o livro, embora me tenha custado muito. Eu li, há dias, uma entrevista do escritor [José] Rodrigues dos Santos, julgo que na Visão, em que ele dizia que, se o escritor não tem prazer em escrever, o leitor não tem prazer em ler. Qualquer coisa desse género. Meu Deus... O Zé dizia: «É preciso que a gente sofra para que o leitor tenha alegria.» Lembro-me sempre daquele primeiro verso do Endymion, do Keats: «Uma coisa bela é uma alegria para sempre.» O que eu devo aos livros, e à pintura, e à música... O que eu devo ao André Brun...





Ao André Brun?

O André Brun foi comandante do meu avô, na guerra, era oficial do exército. O meu avô dizia que era um homem de uma coragem extraordinária. E depois ficaram amigos. Ele morreu relativamente cedo, e o meu avô contava, comovido, que, na última vez que o visitou, perguntou-lhe: «Então, André, como vais?» E ele respondeu: «Olha, se calhar vou de casaca.» E tinha lá os livros todos do André Brun. O que aquele homem trouxe aos meus 10 anos foi imenso. E era um humorista. Tem um livro passado nas trincheiras onde consegue fazer humor com situações muito complicadas, de vida ou de morte. O que eu devo às Selecções do Reader's Digest que havia em casa dos meus avós. Perguntam a um escritor: quem foram os autores influentes para si? Homero, ou este, ou aquele, ou aqueloutro. É mentira, isto.





Quem são os seus?

A mim, o que me deu vontade de escrever foram o Almanaque Bertrand, o Pato Donald, O Mandrake... Foi por causa disso que eu comecei a escrever. Estava sozinho, escrevia, e depois é um milagre, para uma criança, que as palavras, postas à frente umas das outras, façam sentido. Até que descobrimos que há uma diferença entre escrever bem e escrever mal. E aí, pelos 20 anos, descobre-se que, entre escrever bem e uma obra-prima, há uma diferença ainda maior, e que só vale a pena escrever para ser o melhor. Para dizer aquilo que nunca foi dito. Como é que eu hei-de explicar? Eu sinto-me um elo de uma corrente que começou muito antes e acabará muito depois. E quem é que escreve? Quando escrevemos, quem é que escreve? Quem é que, através da nossa mão, se exprime? Quem? Não sei. A gente só tem perguntas, e quando encontra respostas elas transformam-se em novas perguntas. Então, nunca faremos o livro que queremos, porque pode-se sempre ir mais longe. E, se conseguirmos trazer uma coisa que achamos nova, percebemos que essa coisa é uma porta que dá para outra coisa ainda, e outra, e outra, e outra...





Quem é que o António lê hoje?

Nós temos poetas contemporâneos de grande qualidade. O Vasco Graça Moura é um grande poeta. Um, que descobri há relativamente pouco tempo: Manuel António Pina. É muito bom. António Franco Alexandre. É muito bom. E estou a esquecer-me de nomes. Pedro Tamen. Infelizmente nas traduções de poesia, essa qualidade não passa. Mas eu gosto tanto de ser português, pá. Gosto de Portugal. No aeroporto, conheço logo a bicha do avião que vem para Portugal: são os mais feios, mais pequenos, mais escuros. Mas gosto. Gosto do nosso mau gosto. Gosto. Há um lado meu que adora essas coisas: cães de faiança, molduras de talha. Gosto. Quadros de palhacinhos a chorarem, de gatinhos a saírem de botas. Gosto. Um livro sem mau gosto é mau.









Em De Profundis, José Cardoso Pires fica sem memória; em Sôbolos Rios Que Vão, a memória é tudo o que resta ao sr. António Antunes. É mais cruel perder a memória ou conservá-la, sabendo que, como diz o poema de Camões que dá título ao seu livro, «todo o bem passado...»

Ah, sim, «...não é gosto, mas é mágoa». [Pausa.] Não sei responder. Era uma mistura de emoções. [Pausa.] Sabe, na semana passada, disseram-me da editora que uma senhora que tem um cancro em fase terminal gostava que eu lhe assinasse os livros. Ou, o ano passado... recebi um telefonema de França. «Está? Chamo-me Jean Daniel.» Jean Daniel era um ídolo da minha juventude. Diretor do Nouvel Observateur. Foi através da crítica literária do Nouvel Observateur que vim a saber do boom sul-americano, que estava a acontecer nessa altura. Portanto, era um homem a quem eu devia muito. E o senhor telefona-me e diz: «Eu tenho 89 anos e gostava de o conhecer antes de morrer.» Isto é tudo tão comovente, não é? Tenho tido muita sorte. E depois são os amigos desconhecidos. No outro dia, estava à procura de uma rua até que entrei num cafezinho pequeno para perguntar. Dois homens levantaram-se e levaram-me lá. O que isto vale... Diga lá se uma pessoa merece isto... Não merece. Tinham lido os livros, é extraordinário.





No segundo capítulo, o da operação, o jogo com os tempos de que falava há pouco é mais intenso. Há uma espécie de «chuva oblíqua» entre Nelas e o hospital em que, ainda mais do que no poema do Pessoa, é evidente que o tempo passado e o tempo presente se misturam e criam um outro tempo, um terceiro tempo que é a fusão dos dois.

Foi muito difícil escrever esse capítulo, não sabia como havia de fazê-lo. [Pausa.] Concordo consigo, os tempos misturam-se e há um outro tempo.





Quem está naquela cama, em Santa Maria, é o sr. António Antunes ou o Antoninho? Quem morre, quando se morre? O velho que vemos no hospital ou uma criança que já não existe mas que continua a ocupar o espaço da memória, a lembrar-se dos balões dos «Armazéns Victória Tudo Para a Mulher Moderna», de uma estrangeira loira que havia num hotel - ou de um trenó que tem escrito Rosebud?

Ah! Não tinha reparado nisso.





Sabe qual é o seu balão, a sua estrangeira loira, o seu trenó?

Não sei... [pausa]. Não tinha pensado nisso. Sabe, o Orson Welles disse uma coisa que foi importante para mim: «Há duas coisas que nunca filmo: pessoas a fazerem amor e pessoas a rezarem.» Não há uma descrição de sexo num livro meu. [Pausa.] Esse filme [Citizen Kane] é um milagre. Um milagre. A gente fica com aquela inveja saudável. E, ao mesmo tempo, com orgulho. Um grande artista devolve-nos uma imensa dignidade. Eu vejo sempre o concerto de ano novo, com música do Strauss, e comovo-me até às lágrimas. É uma tal vitória sobre a morte, a música do Strauss... É preciso acreditar nas pessoas. As pessoas são tão mais ricas do que elas mesmo pensam. Nós parecemos viúvas pobres: vivemos em duas assoalhadas com serventia de cozinha. E procuramos a porta em paredes que sabemos que não têm porta, e temos medo de abrir as janelas. E, depois, há assim uns cabrões, como o Strauss, que fazem isto por nós.






Há um livro da Susan Sontag (A Doença e as Suas Metáforas) em que ela diz que a antiga ideia romântica que tínhamos da tuberculose, segundo a qual a doença era provocada pelo caráter do doente, subsiste hoje, mas agora em relação ao cancro. Que a vítima é, ao menos em parte, culpada. Sentiu isso?

Isso é tão verdade que eu tinha vergonha. Por exemplo, eu podia pagar menos IRS se invocasse o cancro, e fui incapaz de o fazer. Tinha vergonha. Era uma inferioridade minha. Só pensava: que diferente que isto é da guerra. Porque, na guerra, há uma coisa que está fora de mim e eu posso dar-lhe um tiro. Aqui, não posso fazer nada. Lembro-me de, quando estava a fazer radioterapia, dizer: «Morre, morre, filho da puta.» Insultava o cancro. [Risos.]





É como diz no livro? «Pode ter-se um cancro e estar alegre, ora essa» (pág. 19). Se calhar, nem há outra maneira.

Eu, infelizmente, não sou uma pessoa feliz nem alegre. Tenho dois ou três amigos que são, e tenho uma inveja imensa deles. Primeiro, porque pertenço à classe dos eternos culpabilizados. Culpado de tudo. E, depois, às vezes, penso: porque é que a gente sofre tanto? E sofrer por nadas.







Logo no início do livro, diz-se: «que terrível e cómica, a morte» (pág. 14). O facto de ser cómica faz com que seja ainda terrível ou torna-a menor aos nossos olhos e por isso mais fácil de enfrentar?

Ó Ricardo, não sei, ainda não morri. Mas a gente não pode levar a morte a sério. Há que aceitar a morte como a impostora que é. Uma vez perguntaram ao Hemingway o que é que ele achava da morte, e ele disse: «Outra puta.» E venceu-a. Ele dizia: um homem pode ser destruído, mas não pode ser vencido. [Pausa.] Tinha razão, não tinha?»

quarta-feira, novembro 03, 2010

Serenidade

Sonho mudo,
calmo e suave,
sereno na tempestade
que há no mar (que há em mim)...

Vem a corrente do norte
e vem a corrente do sul,
e um dia virá também a morte
e o meu sonho deixará de ser azul.

Cúmplice

Cúmplice no olhar
cúmplice no sorriso
cúmplice na dor
cúmplice na alegria
cúmplice de mão dadas
cúmplice na partilha...

Ser missionário é ser cúmplice!

Não depende, exclusivamente, de nós

Há coisas que não dependem exclusivamente de nós... Façamos o que fizermos elas continuam a seguir o seu caminho e a ser «comandadas» pelos outros. Porque, mesmo que dê-mos o nosso melhor, se os outros não quiserem sentir, não sentirão, não mudarão, mesmo que nós mudemos. E, a isto, chama-se impotÊncia, falta de liberdade ou algo que nem nome tem... pois, não somos donos do nosso destino (se é que ele existe), as coisas não acontecem porque nós queremos e as pessoas nunca são como as sonhamos e, pior, como as conhecemos.

Partir e voltar

Afastei-me e hoje, vou regressar... Estou nervosa, confesso. Tenho medo das reacções dos outros, tenho medo de sentir que já não faço parte, que já não pertenço ali... Mesmo assim, inunda-me a esperança e a alegria!
É o reencontrar pessoas e momentos, é voltar para algo me fez feliz e me enche.
Sei que nada vai voltar a ser o memos, mas espero que a mudança seja positiva e dê fruto.






Hoje percebi-te, amigo... o medo de voltar, é saber que nada voltará a ser o mesmo, que os momentos e pessoas perdidas estão diferentes e não regressarão... voltar é sentir, efectivamente, a perda, é ter certeza dela (e dói demasiado).

DespertaR

Nunca despertamos os sentimentos que queremos, mas despertamos sempre o que os outros sentem por nós.

Tudo ou nada?

O que tenho pr'a te dar é tudo, mas  não é isso que tu queres, não é isso que me pedes...
Pedes-me mais, pedes-me menos, mas eu isso não posso dar-te.

Só posso dar-te tudo, na medida certa (não exacta).

Entre

Entre o frio que fica
e o frio que passa
está o sol que nos aquece
e o horizonte que nos abraça.

A noite disse que não,
mas a lua afirma que sim
e eu quisera não ter coração
e eu quisera poder viver sem mim...

Entre linhas

Entre linhas viaja
o que me é proíbido dizer.
São sonhos, são esperanças
que eu não quero esquecer...

No mar ou deserto,
nas estrelas e luar,
meu coração passou perto
de tudo o que é lugar...

Passou da porta e não entrou
andou à chuva, mas não molhou...
fez tudo e não fez nada
e segui um caminha
que nunca teve estrada.

Ah a vida é pássaro ferido na asa!
É barco sem porto seguro
que brinca e finge que a vida não passa
que apenas constrói um muro!

E entre linhas viaja
o que a vida não nos deixou viver.
São sonhos, são esperanças
que no papel, nos sentem envelhecer...

Pensamento

O pensamento tem a capacidade de nos transportar para outro mundo. Esse mundo pode ser perfeito, mas também há a forte possibilidade, especialmente para quem gosta de viajar, de esse mundo ser um lugar angustiante que derrama sangue no chão e deixa respostas mortíferas e, como se não lhe bastasse, levanta outras tantas questões, também elas com a capazes de nos levar à loucura.

Viajando entre linhas

Viajando entre linhas, as cópias dos meus passos vão amarelecendo... o velho diário, único amigo fiel, esconde e revela os meus segredos: os sorrisos calados, os gritos escondidos, os abraços não sonhados, os beijos adormecidos.
No fundo, um livro escrito por mim, um livro de histórias, velhas memórias e recordações, o livro da minha vida!
 É por isso, que o livro me conhece melhor que eu mesma... que te conece melhor que eu...

Morrer e amar

Talvez amar e morrer sejam a mesma coisa... Quando amamos destruímos o «eu» que existia e renascemos num novo «eu»... destruímos também a pessoa amada...
 O amor destrói e contrói, mata e cria... no fundo, a morte e o amor estão intimamente ligados. Quem não morre não ama, pois amar implica morrer e renascer para uma vida completamente nova.

segunda-feira, novembro 01, 2010

Resignar-me a ser quem sou?

«Sabia que estava só a tentar disfarçar a decepção, sabia que não suportaria regressar aos gestos e aos pensamentos de sempre, era como se tivesse estado a ponto de embarcar à descoberta da ilha misteriosa, e no último instante, já com o pé na prancha, lhe aparecesse alguém de mapa estendido: não vale a pena partires, a ilha desconhecida que querias encontrar já está aqui, repara, tanto de latitude, tanto de longitude, tem portos e cidades, montanhas e rios, todos com os seus nomes e histórias, o melhor é resignar-se a ser quem és.»

 Não me resigno. Não me conformo.
 Para quê resignar-me a ser quem sou, se posso sempre ser diferente, ser mais, ser melhor? Se há um mundo de possibilidades e, a ilha desconhecida, por mais encontrada que esteja, tem sempre algo mágico por descobrir?

Podes até ter descoberto a ilha desconhecida, mas nunca descobrirás o total do seu «conteúdo», pois julgas, estupidamente que, uma vez encontrada, não há necessidade de procurar... Logo, nunca  a descobrirás.
« Quem somos nós para falar de consequências, se da fila interminável delas que incessantemente vêm a caminho na nossa direcção apenas podemos ver a primeira?»

sexta-feira, outubro 22, 2010

Até no momento da morte...

É curioso que o ser humano não se preocupe com o momento presente (o único que pode experenciar), estando sempre «agarrado» ao passado e ao futuro...
 Até na hora da morte: quando estamos prestes a morrer não nos preocupamos com o que somos ou não somos mas sim, com o que fomos e podiamos ter sido e, com o que seremos ou deixaremos de ser...

quinta-feira, outubro 07, 2010

«Mas o melhor do mundo são as crianças,\flores, música, o luar, e o sol, que peca.»

O melhor do mundo? Vivemos num mundo tão imundo, de tal forma cruel e atróz, que se me afigura difícil responder à questão... Não obstante, também existem coisas boas, caso contrário a vida seria algo insuportável (e não o é já?).

Visto que, não viverei tempo suficiente para experenciar tudo o que o mundo tem para me oferecer, nunca saberei o que é o melhor do mundo, mas posso destacar o melhor do meu mundo, o melhor que já experenciei até agora.

Não há nada que me faça mais feliz do que o teu sorriso na minha direcção, o silêncio, a ausência de gritos, a ausência de falsidade, a ausência de exigências às quais não posso corresponder... mas melhor que isso, é a presença das pessoas que significam muito para mim, as poucas com quem me identifico; a presença de palavras cheias de significado e de sentido que ficam na memória graças ao seu poder transformador; no fundo, a presença que preenche todas as ausências... mas o melhor do mundo ainda não é isso!
É o sentimento de utilidade que dá sentido à existência; o acreditar que existe uma razão, que há um caminho a seguir, que sou útil aos outros (não de uma forma material, mas na medida em que os ajude a encontrar-se, a construir-se...). O melhor do mundo é ter a plena consciência de que nada do que fazemos é em vão.

« O ser mais feliz é o ser que se sente mais satisfeito.»

Stuart Mill defende que a qualidade dos motivos pelos quais se pratica determinada acção (intenção da acção) não é o que mais importa desde que, o resultado dessa acção seja a maximização\optimização da felicidade e do do prazer e, consequentemente, uma minimização do sofrimento e desprazer de uma população.



Ora, para que uma sociedade seja saudável e feliz o resultado da sUposta acção deverá ser em grande escala, ou seja, a optimização da felicidade e do prazer deverá ser para um grande número de pessoas caso contrário, poderíamos facilmente cair no erro de admitir a prática de crimes e instrumentalização constante do outro pela felicidade de alguns (o que infelizmente acontece.


A concepção de felicidade de Stuart Mill poderá ser facilmente refutada uma vez que, muitas pessoas obtêm prazer através do sofrimento e da dor e, nem todos temos as mesmas necessidades; o que é felicidade\prazer para uns, não o será para outros.

quarta-feira, outubro 06, 2010

Mais uma vez, a LIBERDADE

O Homem tem sentimentos contraditórios e nem sempre age em conformidade com  o que pensa: rejeita a liberdade para ser irresponsável e, quer ser livre, dono de si e responsável pelos seus actos. Mesmo com todas estas antínteses e condicionantes à liberdade humana, o se humano tem a capacidade de as transpor e ultrapassar, superando-se a si mesmo (e é nessa capacidade que eu acredito e deposito a minha esperança).
Por mais que nos condicionem e imponham limites, há sempre a possibilidade de transformar  mundo, reaprender-se, recriar-se...
No fundo, se não existissem limites e condicionantes à liberdade, esta não seria valorizada, o Homem não procuraria a auto-superação... o facto de o ser humano ser simultaneamente um agente criador e condicionado torna estas duas realidades complementares e indissociáveis. é por elas que não somos «cadáveres adiados», sonhamos e temos objectivos de vida.

Liberdade

O Homem é um agente criador que actua transformando o mundo em que vive e definindo-se pelos seus actos. Contudo, os seus actos são condicionados pela sua fisiologia, pela sua herança genética, pelo facto de ser mortal, pela cultura e sociedade em que se insere, pela linguagem, tradições, costumes, hábitos, educação, pré-conceitos, normas sociais(...).
O Homem é escravo de si mesmo  e do seu corpo, pois alimenta-se e procura o seu bem-estar, saúde, realização pessoal e felicidade.
A meu ver, o Homem não é totalmente livre devido a todas as condicionantes já referidas ou, se for livre, então estará condenado a ser livre (não tendo aqui escapatória possível).
Não será essa condenação à liberdade uma imposição e condicionante à mesma? Terá o Homem direito a escolher não ser livre?...

E ao escolher não ser livre, é livre porque escolheu...

Liberdade condicional

A acção humana é condicionada pela programação da Natureza: nascemos, alimentamo-nos e morremos (condicionantes fisico-biológicas), pelas condicionantes histórico-culturais: linguagem, tradições, hábitos, formas de comportamentos e lendas.
Por outras palavras, o ser humano é condicionado pela sua própria existência e pelo que é.  Se o sujeito é um ser humano não poderá, certamente, ser um deus, uma ave, uma borboleta, uma estrela, um gão de areia(...). O sujeito não escolheu o seu sexo ou as suas características físicas e psíquicas. Não escolheu também, a época histórica em que vive, o espaço geográfico, a cultura, a sociedade em que se insere ou o modelo de educação que lhe é imposto.
Se o sujeito vivesse em Marte, se fosse Hindu, se não tivesse seguido o modelo de educação actual ou não tivesse tido qualquer tipo de educação, por exemplo, as suas acções seriam seguramente,diferentes bem como, a sua maneira de pensar, as suas escolhas e personalidade. O sujeito não pode dissociar-se destas condicionantes que influenciam toda a sua vida negativa e positivamente. Porém, sejam quais forem as condicionantes a que o sujeito for submetido, este não deixará de ser quem é possuindo sempre livre arbítrio, ou seja, a sua essência permanecerá intocada.

Filosofar

Existe o filosofar espontâneo e o filosofar sistemático. Podemos considerar que todo o homem é filósofo, que todo o homem é pensador pois, é dotado de razão logo, depara-se com problemas de ordem filosófica. O filosofar espontâneo que ocorre naturalmente, isto é, está na natureza humana, caracteriza-se por ser simples, pouco crítico, pontual (...). Todos o podemos praticar no entanto, quando o sujeito soluciona o seu problema, deixa de pensar sobre ele, abandonando-o.
O filosofar sistemático, por oposição ao filosofar espontâneo, procura encontrar uma resposta universal ao problema com o qual o sujeito se deparou. Este tipo de filosofar caracteriza-se por ser universal, crítico, complexo, elaborado, académico(...) e, não pode ser praticado por todos ou porque nem todos se dispõem a isso ou porque não têm meios para o fazer (capacidades, estudos...).

domingo, outubro 03, 2010

« Faz o bem, evita o mal.»

A perspectiva deontológica de kant : «Faz o bem, evita o mal» é vantajosa na medida em que defende e promove o repeito pelo dever e o agir segundo os ditames da nossa consciência e da recta razão, o que, leva o sujeito à preferência do bem e, consequentemente, à sua prática, contribuindo assim para a construção de uma sociedade melhor em que, a maioria das pessoas são moralmente boas, éticas, respeitadoras, tolerantes, conscientes, livres e autónomas.
 No entanto, «não há bela sem senão.» E, esta perspectiva cria uma tensão permanente entre querer\dever e dever-ser\ ser. Assim, é difícil agir segundo a ética kantiana pois, o Homem é capaz de atitudes altruistas mas, é também capaz de atitudes egoístas. O ser humano poderá transcender-se ou deixar que o seu egoísmo, o seu «lobo mau» interior prevaleça e gere a frustração do tão cummumente chamado «peso na consciência.»

« Nem tudo o que parece é.»

Somos prisioneiros do nosso próprio corpo e do conhecimento obtido pelos sentidos o que, muitas vezes nos induz em erro. No viver comum, a vida no mundo sensível, apenas vizualizamos as sombras diformes dos objectos enquanto que, na atitude filosófica, «vida no mundo inteligível», conseguimos conhecer a realidade tal qual ela é.
 Quando ascendemos do mundo sensível ao mundo inteligível (participação) devemos fazê-lo gradualmente pois, a realidade causa-nos dor e, ao vê-la repentinamente, tendemos a fechar-nos na ilusão. O mesmo acontece com o prisineiro que sai da Caverna: se sair de repente, doer-lhe-ão os olhos e não aceitará a realidade (de facto, não é fácil admitir que estivemos errados a vida toda). No entanto, se o prisionairo sair lentamente, terá tempo de se habituar, aos poucos, à realidade e, no fim, verá a luz do sol e todas as coisas como realmente são. Para aceder ao verdadeiro conhecimento, é necessário sair, lentamente, da ignorÂncia, ir pensando, descobrindo a verdade...
 A vida na Caverna e fora dela é uma analogia ao viver comum e à actitude filosófica, respectivamente.
 No viver comum, o «conhecimento» que obtemos é sensível, consedido pelos sentidos enganadores que nos permitem aceder ao mundo sensível, cópia imperfeita da realidade (mundo inteligível). Porém, a realidade está distorcida, sendo a verdade ilusória e relativa.
 A atitue filosófica admite o conhecimento como não definitivo, como uma construção permanente, como uma viagem rumo ao infinito.... Acedemos ao conhecimento verdadeiro através da razão, pois existe sempre algo para lá do que se vê.

Valores

Existem valores universais como o amor, a paz, a amizade, a vida, a beleza, a verdade... daí que todos os seres humanos procurem a felicidade, o amor, a amizade... ; daí que se gerem tantas guerras na procura incessante da paz, perfeição, beleza ou pelo valor do dinheiro...
 Os valores apresentam polaridade: podem ser negativos ou positivos, fazendo-nos sentir repulsão ou atracção por eles, respectivamente.
Os valores são, também, relativos, isto é, pesar de serem anteriores ao sujeito, depende do sujeito para valerem e, cada sujeito valorizará de forma diferente e única. Assim, os valores poderão ser hierarquizados por um indivíduo, comunidade, sociedade ou cultura em que, existem valores que valem mais que outros e, que ocupam um degrau superior na hierarquia de valores.
 Os valores são objectivos porque estão nas coisas e transcendem o Homem - porém, são subjectivos na medida em que, dependem do sujeito para valerem, é o sujeito que lhes dá valor.
 Concluindo, o valor é o significado que o sujeito atribui aos factos, aos acontecimentos, à realidade em si... estando dependentes da época histórica, espaço geográfico e cultura em que o sujeito se encontra. Cada cultura rege-se por valores específicos comuns à maioria dos indivíduos.
 Os valores são guias de acção que influenciam o Homem nas suas escolhas ao longo de toda a sua vida e, «têm a capacidade» de transformar toda uma vida pois, as nossas escolhas são fundamentadas pelas nossas motivações e pelos valores pelos quais nos regemos.

«A religião é o ópio do povo.»

Mais uma vez, o juízo de valor está presente nesta afirmação pois, é um facto que ser ou não ser religioso afecta e influencia a vida de todo e qualquer ser humano agora, se a religião é vista como algo de positivo ou negativo em si, já dependerá de cada ser humano e do juízo de valor que este faz, ou seja, do significado que cada um atribui à religião, que será, certamente, diferente.

Um dia qualquer

Num certo dia em que as nuvens estavam carregadas de água, e o ar frio entrava no mais íntimo do meu ser... num certo dia em que nada era belo, tinha-me esquecido do que era a felicidade...
Tudo era feio, desde o tempo, o espaço, a acção até aos sentimentos.
O meu pensamento passa apressadamente por todos os momentos da minha vida e dou-me conta de que nunca disse um sim! Um sim verdadeiro! Queria saber o que era, queria saber o porquê... Eu estava em casa mas o meu pensamento voava para bem longe, nem eu sei para que lugar!
 Lá estava eu, mais uma vez, sozinha em casa. A chuva e o vento lá fora ainda entristeciam mais o meu ser. Então cantei, mas só me ocorriam melodias mórbidas!
 Estava farta de tudo, da vida, da solidão, dos livros, do telemóvel, da música... liguei a Tv, o que não é normal em mim... E puf! Aconteceu o inesperado! Comecei a rir, um rir verdadeiro, uma gargalhada sonora que me preencheu e me aqueceu o coração!
 Era o Ricardo Araújo num programa de Tv, lá estava ele com as suas piadas... Foi a primeira vez que o «vi» e ouvi e fez-me bem. Desde esse dia que ele se tornou numa das poucas pessoas que eu admiro.


2007

Lírica

A Lírica Camoniana insere-se na época dos descobrimentos e do Renascimento.
O Renascimento foi uma revolução que rompeu com a época medieval, em que renascem os valores da Antiguidade Clássica greco-latina. Nesta época, houve uma revolução nas artes, nas mentalidades, na igeja, na forma de viver e encarar a vida e, a literatura não foi excepção.
 A Lírica Camoniana, de Luís de Camões, sofreu influências deste movimeno renascentista, bem como de grandes escritores, como por exemplo: Homero, Dante, Petrarca e Platão.
 Os poemas de Camões, de carácter auto-biográfico retratam temas imortais, que ainda hoje inquietam a alma do ser humano. Essas temáticas são: o amor, o Homem a Natureza e o desconcerto do mundo.
 Luís de Camões é uma sumidade e, tornou-se eterno porque, «pelas obras valorosas» que realizou,  foi-se da morte libertando.
Considero Luís de Camões um dos maiores génios que pelo mundo passaram e aprecio imenso as suas obras, que são extraordinárias e os seus poemas que me transmitem sempre uma mensagem que me faz pensar e repensar.
De todos os seus textos não consigo priviligiar nenhum pois, cada um deles é único e singular, uma obra de arte que nos permite sonhar, voar e viajar no tempo e criar o que ainda não existia dentro de nós.

sábado, outubro 02, 2010

«O remorso é para a alma o que a ferida é para o corpo.»

Palavras para quÊ?
«Os dentes riem, mas o coração é que sente.»

«Quem faz perguntas não pode evitar as respostas.»

Mesmo que as respostas sejam assustadoras...

Liberty

« Quando não se tem o devido conhecimento, procede-se sem consciência, pois é um verdadeiro inconsciênte o que se funda na ignorância para agir mais livremente.»
« A consciência será o nosso melhor amigo se o tratarmos como tal: satisfazendo as suas exigências e não o abandono à obscuridade da ignorância.»

«Recria-te, reaprende-te»

«O mal é pouco criativo, ao contrário do bem, que pode sempre surpreender...»





Mais uma vez, não encontrei título

Quando conheço alguém e olho a pessoa pela primeira vez, penso logo, quase automaticamente: vai morrer. E, de seguida um sentimento de profunda compaixão por essa pessoa me invade a alma... e sinto que quero conhecer essa pessoa, que quero saber se vale a pena e fazer com que valha a pena, se ela não está feliz eu quero fazê-la feliz, contribuir para que ela aproveite a vida ao máximo, talvez a meu lado... Estranho? Não sei, talvez me ligue demasiado às pessoas pela primeira impressão que tenho delas e que é sempre igual, só com o tempo é que elas se vão diferenciando umas das outras e adquirindo mais ou menos importância.

No entanto, talvez este sentimento seja apenas autocomiseração...

Motivações?

Ps: peço desculpas mas eu nunca fui muito boa na escolha de títulos e penso que nunca o serei...

Hoje interesso-me pelas motivações, ou melhor, pela qualidade do motivo. Que quero eu dizer com isto? Bem, descobri que o importante não é a acção em si (que pode ser boa ou má e ter resultados proveitosos ou nefastos), mas sim, a intenção, a qualidade do motivo por detrás da acção humana.

Tantos erro são cometidos por julgarmos os outros pelas suas acções...A pessoa agiu mal mas eu não sei o que a levou a fazê-lo, não sei se foi para me proteger ou me dizer que me ama... não sei se foi em nome de um bem maior....

é claro que este meu pensamento também terá o reverso da moeda... urge conhecer o coração, urge ser mais transparente, só assim se evitarão erros de mal interpretação. E eu sou constantemente mal interpretada... talvez seja porque ninguém me vê com o coração...

quarta-feira, setembro 29, 2010

Infelizmente é difícil escolher um problema...

O estado da educação em Portugal é pavoroso. Comecemos pela escola: os alunos são mal educados, não estudam e não têm objectivos de vida. Consequência? São uns frustrados que aparentam ser felizes e, para isso, recorrem ao álcool, às drogas, são agressivos com os colegas e professores. Como é óbvio, estas crianças e jovens não estão bem e precisam de apoio porém, raramente o encontram. Os professores não querem saber ou se se preocupam não têm tempo para acompanhar os alunos. Os pais? Bem, esses dizem que sim a tudo o que os filhos querem, para não arranjarem confusões e, assim, figem estar tudo bem.



Não irei centralizar este problema apenas um pólo uma vez que, tanto a escola como os pais ou encarregados de educação são culpados. Sim, estes são os que maior peso exercem sobre a educação dos jovens mas, estes também se encontram sob a influência de uma sociedade decadente, corrupta, machista, inculta e tantos outros adejectivos de conotação negativa.


À afirmação : « é possível que os jovens sejam bem educados quando os seus pais também o forem». Eu acrescento que, para além de os pais não terem sido bem educados, também não sabem educar. Ou são demasiado premissivos ou demasiado opressores, sendo incapazes de encontrar um ponto de equilíbrio. Outros pensam que o que eles pensam ser melhor, é efectivamente o melhor, e forçam os seus filhos a viverem sonhos de outras pessoas ou impedem que estes concretizem os seus sonhos. Há ainda pais que desmotivam e desvalorizam os seus filhos, descarregando neles as suas frustrações, são demasiado exigentes ou, despreoucupam-se criando défices de atenção e afecto.


A meu ver, urge criar um diálogo sincero entre as escolas e os pais, professores e alunos, pais e filhos. Urge educar os pais e re-educar a sociedade que, estando doente, impede um desenvolvimento saudável e pleno de todos os cidadãos.

Dani

Vamos ficar no princípio? No começo é mais fácil: há o alento do sonho, o desconhecimento dos obstáculos, a ilusão... depois experimentas e provas e sentes frio e sabes que pode chover... e depois vai-se tornando difícil, e depois é complic...ado... Eu quero o agora, inconciênte, inconsequente... eu quero o agora, o princípio, o começo da amizade, o começo da vida... eu não quero saber como é, como foi e como vai ser. Eu quero sentir, olhar para ti, abraçar-te, dar-te a mão porque acabei de te conhecer... eu quero conhecer-te todos os dias... vamos ser sempre como no primeiro olhar?

terça-feira, setembro 28, 2010

A dor de pensar

Essa coisa de racionalizar os sentimentos não está a ser nada fácil porém, não tenciono desistir...
Até quando? Onde me levas (cérebro)?

Só existe uma pessoa

A quem eu queira ver; com quem eu queira estar; a quem eu queira ouvir; a quem eu queira falar...
Quero tocar-te (o corpo e a alma) e ser tocada por ti... quero falar-te de viagens, de sonhos e histórias, falar de tudo e de nada, coisas importantes e banalidades... quero, quero, quero e quero e bato o pé porque quero, porque te quero e dou conta que esta «amor» é egoísta e, se este «amor» é egoísta, não podendo ser egoísta o amor, não é, certamente, amor o que sinto por ti. E talvez a loucura tenha cura, e talvez eu ainda possa ter salvação...

Amanhã é sempre tarde demais

É tarde para dizer: amo-te.
É tarde para pedir perdão.
E o que vai em minha alma
É mais forte, mais fundo que o mesmo coração.

Todas as viagens tÊm um início e um fim

Onda que morres em mim,
quem dera que não fosse aqui
a tua última morada!
Mas teimas-te em dar-te...
e des-te a tua viagem por terminada.

O meu pequeno intempérie

Intempestiva saudade invade o meu peito
E tu que és causa da chuva,
E tu que me pareces sempre perfeito...
Tempestades afloram, sem nunca rebentar...
Também eu te beijo, sem nunca te tocar...
E navego nesse barco
Como estrangeira no mar
Nem pirata, nem marinheiro
Sempre um não saber navegar

Fujo dos teus olhos
Como quem da morte já fugiu...
Hoje, a situação reverte
Mas Júpiter ainda não deciciu.

Vasculho nos escombros do céu
Algo que sei nunca poder encontrar:
um sorriso a correr para mim,
braços abertos, com vontade de abraçar.

E, assim, continua a fonte a correr
Fazendo-me lembrar a própria  fuga de mim
Às vezes, suplico aos deuses que pare,
Mas é sacrilégio matar um beijo assim.

Rita Dias

Pseudo poesia

Eu gosto de poesia, caramba!
Mas não escrevo assim tão bem,
simplesmente tatuo no meu peito
palavras, versos que não são de ninguém.

Fernando Pessoa

«Chove. Que fiz eu da vida?







Fiz o que ela fez de mim...






De pensada, mal vivida...






Triste de quem é assim!














Numa angústia sem remédio






Tenho febre na alma e, ao ser,






Tenho saudade, entre o tédio,






Só do que nunca quiz ter...














Quem eu pudera ter sido,






Que é dele? Entre ódios pequenos






De mim, 'stou partido.






Se ao menos chovesse menos!»

terça-feira, setembro 21, 2010

a minha pseudo autopsicografia

Corria descalça sobre a terra molhada, em direcção ao infinito. O sol embelezava ainda mais, se é que isso é possível, todas as maravilhas naturais em que os meus olhos pousavam. O vento, adoçava o canto dos pardais e a brisa brincava e dançava no meu rosto.



Não conseguia pensar em nada. Tu estavas ali e a única coisa que eu sabia fazer era sentir, nem eu sei bem o quê...


O tempo voava e estava parado e eu, eu perdida no espaço sem norte ou razão, sem bússula que me guiasse na minha viagem sem retorno.


Era um sonho, apenas isso. E como todos os sonhos, este terminou no momento em que acordei porque, tirar as calhas ao coração tem como consequência um descarrilamento, um acidente mortal ao qual penso ter sobrevivido porém, estou certa de que deixou marcas para além da vida.


Acordei, e ainda sinto o cheiro a terra molhada, e ainda sinto a tua mão na minha mão fechada.

«para viajar, basta existir.»

«Para viajar, basta existir». Assim nos dizia Fernando Pessoa e com toda a razão, pois, todo aquele que existe viaja. Atrevo-me a dizer que a existência toda ela é uma viagem. Quando pensamos, fazemos planos e projectos, quando sonhamos e imaginamos... tudo isto é viajar. E não só realizamos viagens no espaço, como também, no tempo.



Ao sonhar, fazer planos e projectos, viajamos até ao futuro, aquele que é incerto e o único ao qual a esperança se pode abraçar. No entanto, ou porque a memória não esquece lembranças que nos torturam e matam lentamente, ou porque as saudades de tempos felizes, de tempos que já não voltam são mais fortes, não conseguimos evitar realizar viagens ao passado. Viagens essas que deveriam ser a preto e branco mas que, continuam vivas e a cores e ferem. Viagens essas, que muitas vezes, não têm retorno.

viagem

Não sou simplista ao ponto de me limitar a dizer que viajar é mudar de posição geográfica por um período de tempo. Não, na minha óptica viajar é algo muito mais espiritual, por assim dizer, e está ao alcance de todos. Até porque posso ir visitar um local mas não estar lá. É bem possível que o meu ser tenha ficado onde eu estava ou se tenha deslocado para um outro sítio.



Nem sempre estamos completamente num local, nem sempre o corpo acompanha a mente, nem sempre a mente acompanha o corpo.


«Para viajar, basta existir.» Pois, viajar é pensar, imaginar, recordar, reviver. E quem pode existir sem viajar, sem se abstrair, sem sonhar ou sem pensar? Quem não o faz, não existe, vegeta.


É nos escombros da memória, nas viagens que realizamos dentro de nós e ao longo da vida que nos vamos conhecendo.


Concluindo, não consigo dissociar a palavra viagem da palavra existência, considerando-a de extrema importância para todo e qualquer ser humano.

a todos os que lêm os meus disparates

Quando escrevo viajo no mais intímo do meu ser. Escrevo aquilo que vejo, não me limitando a descrever mas sim, a escrever como vejo. Logo, são as minhas viagens que param por aqui e, quem as sente, sentrirá certamente à sua maneira, mas sentirá também uma parte de mim.

conhecer-te

Viajo em ti. Percorro cada pedacinho do teu ser, tento perceber quem és, conhecer-te, captar o autêntico... mas será que te escondes? Se sim, talvez eu te possa ver e conhecer. Se sim, talvez eu veja apenas o que quero ver e te idealize, não chegando nunca a enxergar-te . Havendo ainda a possibilidade de estares errado e assim, estamos os dois equivocados e tu és invisível.



Se não souberes quem és, tornas-te invisível.

«e era como se esperasse eternamente a tua vinda»

- Já não sei há quanto tempo estou aqui sentada à tua espera.



- Desiludida?


-Claro, tu não chegas!


- Cansada?


- De esperar...


- Então porque continuas à minha espera?


- Porque desde que te conheci a minha vida parou. Sim, eu sorrio. Sim, eu entrego-me, eu sou feliz, eu brinco, danço, canto, vou à luta, mas não vivo.


Não conheço a intensidade de outra coisa que não seja o sofrimento causado pela tua indiferença, a mágoa que me tráz o teu desprezo, a saudade deixada pela tua ausência... sim, estás mesmo aqui sentado à minha frente, mas não estás cá e eu continuo à tua espera porque ainda não conheci a inteireza do momento da tua chegada. Ainda desconheço a autentacidade do cruzamento do nosso olhar. Tu não chegas e a vida continua sem continuar e eu, eu continuo aqui e «é como se esperasse eternamente a tua vinda.»

eu e as minhas dicotomias

Porque eu sou homem e mulher. Porque eu sou deus e animal. Porque eu sou o céu e a Terra, a lua e o mar. Porque eu sou efémera e abarco o infinito. Não digo nada e condenso a alma num só grito. Porque sou e não sou. Porque sou corpo e alma, mente e coração. Porque sou algo que se não pode descrever e ao mesmo tempo tão igual a tantas coisas definíveis. Eu sou liberdade mas estou cativa nos meus medos e preconceitos. Porque eu sou sonhos e viagens. Sou chocolate e morango, quente\frio. Porque su sobrenatural e vulgar. Porque valo ouro e haverá um dia em que o extrume será mais valioso que eu. Porque hoje tenho saudade e amanhã coragem. Porque me mudam as vontades e o pensamento. Porque hoje vês-me, amanhã não me verás mais. Porque sou carne. Porque sou espírito. Sou todos os lugares por onde minh’alma andou, sou todas as pessoas que meu coração amou... sou tudo e não sou nada.



Se sou recordações, um dia irei esquecer o que sou: uma mortal que viveu eternamente, uma tonta que divide o indecomponível na vã esperança de se descobrir.

terça-feira, setembro 07, 2010

segunda-feira, setembro 06, 2010

segunda-feira, agosto 30, 2010

Testemunho missionário

Quando senti vontade de me tornar missionária, surgiram imensas dúvidas e receios.



Perguntava-me se era mesmo isso que eu queria e qual seria a vontade de Deus. Para além disso sou menor, não sabia por onde começar e tinha imenso medo de não estar à altura, mas nada disso impediu que Deus realiza-se em mim o Seu projecto e, penso que a ultrapassagem de todos os entraves ao descernimento da minha vocação são a prova de que é isto mesmo que Deus quer para mim.


Este Verão, os missionários da Paróquia da Ramada, lançaram-me o desafio a mim e a uma amiga, de os auxiliarmos durante a semana missionária em Vale de Prazeres. Eu nem queria acreditar, era a realização de um sonho e, mais um sinal de Deus no entanto, um dia antes de partir, fui assaltada por uma onda de dúvidas. Senti mesmo que não tinha vocação e que não estava à altura do desafio mas já era tarde para desistir e assim, fui rumo a uma das melhores semanas da minha vida.


Ao longo da missão identifiquei-me com a frase «Não tenhas medo, a vida só quer que tu sejas feliz» pois, apesar de todos os receios, a missão preencheu-me e fez-me mesmo muito feliz. Também fui marcada pelas pessoas e sinto que recebi muito mais do que dei e que podia ter dado muito mais, podia ter feito muito mais... Tendo consciência de que o maior Missionário de sempre Foi e É Jesus Cristo, nós, missionários, devemos ser bastante exigentes connosco pois imitar a Cristo não é fácil, é até mesmo impossível fazê-lo plenamente. Por esta mesma razão, entro em contradição e digo-vos que não devemos ser assim tão exigentes pois, como é obvio, muitas vezes pecamos e fracassamos na nossa Missão. Desta forma, aconselho-vos vivamente a encontrarem um ponto de equilíbrio. Cada um de nós dispõe de dons e, como comunidade, dispomos de pluralidade de dons, diferentes ao nível do serviço mas de igual importância e dignidade.


Pensamos muitas vezes, erradamente, que temos muito pouco ou nada para dar e que há pessoas que fazem muito mais coisas que nós e coisas mais importantes. Desenganemo-nos! Todos nós somos chamados por Cristo, Ele quer precisar de nós e, o mínimo que puderes fazer já é muito, é tanto... E isso é visível na gratidão, no olhar das pessoas que ajudámos (e que nos ajudaram tanto). Por isso, tudo o que puderes fazer, faz! Fará toda a diferença no mundo, na vida dos outros e na tua própria vida.


Gostava de acabar o meu testemunho com um agradecimento especial ao Padre Paulo Figueiró pois, foi graças a ele que conhecemos o Movimento Missionário e, agradecer também à Ana Maria, ao Bruno e à Daniela pelo apoio, pelo testemunho, amizade e por acreditarem em nós. Vós sois um exemplo que todos deveriam seguir:)