sábado, novembro 20, 2010

O nada é tudo

Tenho a Terra, a frescura das ervas nos meus pés descalços, mas os meus olhos teimosos fixam o céu e eu fico com vontade de possuir essa imensidão azul...
Tenho o céu e vôo sem limites, sinto a brisa suave a envolver-me o corpo e a alma, mas os meus olhos teimosos fixam o mar e eu fico, inevitavelmente, com desejo de me perder na ondulação... Já perdida, o meu corpo pede a textura que só a areia da praia me pode dar, mas os meus olhos teimosos fecham de cansaço e o sonho lembra-me que os meus lábios pedem os mal-me-queres que haviam na Terra e os aromas e frescura das ervas nos meus pés descalços...

Não. Não posso ter a Terra, nem o Céu, nem o Mar. Nada é meu, nada sou, nada me pertence e eu não pertenço a lugar algum.

Para ser feliz necessito de um pedaço de terra, de um pedaço de céu,  de um toque da areia da praia, da música do mar e de um sonho que me faça acreditar que é possível experimentar a liberdade.

quarta-feira, novembro 17, 2010

“A nossa riqueza está na nossa diferença”.

Na condição de aluna de uma escola de Ensino Cooperativo, só posso discordar da redução das verbas que o governo irá aplicar às escolas privadas e semi-privadas.

O governo gasta, cerca de 2 mil euros a mais com os alunos do ensino público do que com os do ensino privado - saímos mais baratos.
Reduz custos na EDUCAÇÃO (essencial ao desenvolvimento do país), mas os custos não são reduzidos nos aspectos superficiais (que envolvem sempre os interesses pessoais dos políticos).

É incrível, fala-se da crise e do esforço comum que urge operar para a sua superação, mas o esforço não é comum, os que se esforçam, forçados a isso, são sempre os mesmos. O peixe graúdo, esse não faz mais nada do que dizer o que devemos ou não fazer. A verdade é que o Primeiro-ministro continua a pedir 2 mil euros mensais para carregar o telemóvel...

Entristece-me viver num país assim em que, quem detém o poder se move pelos seus próprios interesses e não em prol do bem geral. (A palavra política está completamente defraudada, assim como toda a palavra).

Não admira que o senhor excelentíssimo Primeiro-ministro José Sócrates vendo a sua licenciatura em Engenharia Civil tão contestada (vai-se lá saber porquê...), desvalorize a educação do país. É de facto, compreensível, vistas as coisas por este prisma.

Agora, não nos esqueçamos que apostar na educação é apostar no futuro, é apostar no desenvolvimento do país, um desenvolvimento a todos os níveis, em que só temos a ganhar.

Não tem cabimento nenhum falar-se de crise e advogar que determinadas medidas são tomadas no sentido de a superar, quando na verdade são essas mesmas medidas que nos impedem de avançar.

«A nossa riqueza está na diferença.» Sim à pluralidade e diversidade! Sim a um país com novos horizontes, com variadas capacidades de resposta aos problemas, com diferentes olhares sobre o mundo.

A diferença enriquece-nos, complementa-nos e é, sem dúvida alguma, a arma mais poderosa que pode haver para fazer frente a qualquer tipo de crise.

Posto isto, não me parece compreensível tamanha idiossincrasia.

quinta-feira, novembro 04, 2010

Entrevista de Ricardo Araújo Pereira a António Lobo Antunes

«Quando, ainda criança, o sr. António Antunes assiste a um cortejo fúnebre e se aproxima da ideia da morte pela primeira vez, a prima põe-lhe a mão na testa e diz: «Quando cresceres compreendes» (página 31). Mas ela está a mentir, não está? Nós nunca compreendemos.


Nunca compreendemos. Há uma história engraçada do Walt Whitman. Ele estava num velório e havia uma criança ao pé dele. Agarrou na miúda, mostrou-lhe o caixão e perguntou: «Tu não percebes? Eu também não.» É uma incompreensão perante a morte... Eu nunca tinha visto morte. Vi esse enterro de criança, em Nelas, e não voltei a vê-la: eu era o filho mais velho de dois filhos mais velhos, os meus avós tinham 40 anos. Só voltei a vê-la quando entrei na faculdade de Medicina, no teatro anatómico, tinha acabado de fazer 17 anos. E pensei: não sou capaz de ver, não sou capaz de olhar. É uma total incompreensão para mim.





Escrever sobre a morte é um modo de tentar compreender?

Nunca ninguém morre nos meus livros, passam é a viver de maneira diferente. O meu pai, depois de morrer, continuou a mudar, a existir dentro de mim. E continuámos a falar. Até que chega uma altura em que estamos em paz e o nosso diálogo é de tal maneira perfeito que nem sequer necessitamos de palavras. E depois sentimos que estamos a viver também por eles. Eu estou a viver pelas pessoas de quem gostei e que, para mim, continuam vivas. Mas, ao mesmo tempo, quando escrevemos, estamos tão ocupados a resolver os problemas técnicos que não sabemos muito bem para onde estamos a ir. Claro que não é escrita automática, mas... Estamos a querer dizer a vida toda. E, no fundo, talvez seja a única maneira que nós temos de vencer a morte. Não sei. Há uma coisa muito mais importante do que o talento: é a bondade. E como, para mim, o defeito mais grave é a ingratidão, a única coisa que eu sempre achei que tinha era a capacidade de escrever coisas em que pudesse dar às pessoas de quem gostava aquilo que não era capaz de lhes dar. Por pudor, por vergonha, por cobardia, talvez, por estupidez. Está a ver? Tomem lá, isto sou eu. Tomem. É para vocês. É um presente que eu fiz. Quando um dos meus irmãos era pequenino, o meu pai fez anos e o presente que o miúdo lhe deu foi uma torrada embrulhada num guardanapo de papel. Nunca vi o meu pai tão comovido. Uma vez, uma das minhas filhas, quando era pequenina, deu-me 25 tostões, nos meus anos. Foi o melhor presente que me deram. Estou a dizer isto e estou a comover-me porque [pausa] nunca me deram tanto dinheiro.





Há um momento no livro em que o sr. António Antunes diz: «Não faz sentido eu morrer» (pág. 53). Na crónica que publicou aqui, na Visão, depois de ter sido operado, António Lobo Antunes escreveu: «Quero ficar sozinho a medir isto, a minha doença, a minha mortalidade, o meu pasmo.» Tanto o autor como a personagem são tomados pelo mesmo espanto. A morte é a circunstância mais corriqueira da existência, mas surpreende-nos a todos.

O que senti nessa altura foi: «Estão a brincar comigo, não sou eu. Um cancro? Não.» Mas quando comecei a pensar em escrever o livro decidi fazer uma coisa que nunca fiz: usar uma falsa terceira pessoa. E jogar com os tempos. Porque a carga emocional era tão forte que tinha de me servir de uma série de artifícios técnicos para me ser menos penoso escrever. Para não me comover tanto, para não me emocionar tanto, para não sofrer tanto.





Interpor um filtro de técnica entre o coração e página.

Exactamente. Embora, para escrever, tenhamos de ter o coração aberto mas, ao mesmo tempo, todo o conhecimento. Quando eu acabei o curso, havia um professor de cirurgia que era muito bom. Dizia o que tinha a dizer e depois: «Agora esqueçam tudo e vão lá para dentro.» Porque o conhecimento técnico acaba por ser internalizado. E nós, quando estamos a escrever, estamos a aprender a escrever, também, porque qualquer livro bom é um livro sobre como escrever. Qualquer bom escritor está a ensinar-nos a lê-lo. Por exemplo, eu aprendi a ler o Conrad com o Conrad. Ao princípio, não percebia nada, parecia-me uma confusão. O Gogol. Aprendi a lê-los com eles. O Dylan Thomas, que, à primeira vista, parece uma catadupa de imagens sem sentido. E não é. É muito mais que isso, somos nós todos. E então, a minha gratidão para com os artistas é imensa. A melhor crítica de pintura que eu conheço foi feita quando o Théophile Gautier foi ao Prado ver As Meninas. O gajo olhou e disse: «Mais où est le tableau?» Onde é que está o quadro? É quando o livro deixa de ser livro para se tornar nós - nós, leitores. Acontece-me tanto. Às vezes a gente descobre um bom escritor. Descobri, há relativamente pouco tempo, o Cormac MacCarthy. Muito bom. O Kosztolányi, o húngaro. Muito bom. Eles escreveram só para mim. Os outros exemplares trazem coisas diferentes. Eu não gosto de emprestar livros, porque o meu exemplar é que é. Como acho que O Monte dos Vendavais foi escrito só para mim. Ela está a falar comigo, ela conhece-me. Ela conhece-me.





Há outro livro de um escritor português - aliás, seu amigo -, José Cardoso Pires, também escrito a partir de uma situação em que o autor se confronta com a morte, que se chama De Profundis, Valsa Lenta. «De profundis» são as primeiras palavras do salmo 130. «Sôbolos rios que vão» são as primeiras palavras de um poema de Camões que é uma glosa do salmo 137. É uma coincidência que dois ateus, quando colocados perante a morte, invoquem a Bíblia?

Eu acho que não há ateus. Não há, não acredito que haja. Há um provérbio húngaro muito antigo que diz: «Não há ateus na cova no lobo.» E há outro que eu acho do caraças, que é: «Qualquer bocadinho acrescenta, disse o rato, e fez chichi no mar.» É magnífico, não é? Talvez seja isso que nós fazemos. Fazemos chichi no mar mas, porra, acrescentámos. Isso dá-nos algum consolo. Mas são duas situações muito diferentes. O Zé podia ser meu pai, quase, e, no entanto, era o melhor amigo que eu tinha. Era um homem excecional. Telefonava todos os dias. Era um homem duro, cheio de arestas. Uma vez mostrou-me uma coisa do Redol, que era uma pessoa que ele admirava muito. Eu lia os livros do Redol e não gostava nada. E um dia percebi. Ele mostrou-me uma carta que o Redol, que estava a morrer em Santa Maria quando eu era estagiário, lhe escreveu. Uma carta em papel timbrado de um hotel. O timbre era uma coisa muito pomposa. E o Redol despede-se. Zé, nunca mais te vou ver, fui muito teu amigo, e tal...P.S.: Já viste papel de carta com mais mania? O Zé disse: «Foi a única vez que eu chorei como uma criança.» E o Zé, quando chega a altura do De Profundis, escreveu aquele livro pequeno porque já não era capaz de o escrever grande. Foi muito diferente disto, porque eu estava cheio de força quando estava a escrever o livro, embora me tenha custado muito. Eu li, há dias, uma entrevista do escritor [José] Rodrigues dos Santos, julgo que na Visão, em que ele dizia que, se o escritor não tem prazer em escrever, o leitor não tem prazer em ler. Qualquer coisa desse género. Meu Deus... O Zé dizia: «É preciso que a gente sofra para que o leitor tenha alegria.» Lembro-me sempre daquele primeiro verso do Endymion, do Keats: «Uma coisa bela é uma alegria para sempre.» O que eu devo aos livros, e à pintura, e à música... O que eu devo ao André Brun...





Ao André Brun?

O André Brun foi comandante do meu avô, na guerra, era oficial do exército. O meu avô dizia que era um homem de uma coragem extraordinária. E depois ficaram amigos. Ele morreu relativamente cedo, e o meu avô contava, comovido, que, na última vez que o visitou, perguntou-lhe: «Então, André, como vais?» E ele respondeu: «Olha, se calhar vou de casaca.» E tinha lá os livros todos do André Brun. O que aquele homem trouxe aos meus 10 anos foi imenso. E era um humorista. Tem um livro passado nas trincheiras onde consegue fazer humor com situações muito complicadas, de vida ou de morte. O que eu devo às Selecções do Reader's Digest que havia em casa dos meus avós. Perguntam a um escritor: quem foram os autores influentes para si? Homero, ou este, ou aquele, ou aqueloutro. É mentira, isto.





Quem são os seus?

A mim, o que me deu vontade de escrever foram o Almanaque Bertrand, o Pato Donald, O Mandrake... Foi por causa disso que eu comecei a escrever. Estava sozinho, escrevia, e depois é um milagre, para uma criança, que as palavras, postas à frente umas das outras, façam sentido. Até que descobrimos que há uma diferença entre escrever bem e escrever mal. E aí, pelos 20 anos, descobre-se que, entre escrever bem e uma obra-prima, há uma diferença ainda maior, e que só vale a pena escrever para ser o melhor. Para dizer aquilo que nunca foi dito. Como é que eu hei-de explicar? Eu sinto-me um elo de uma corrente que começou muito antes e acabará muito depois. E quem é que escreve? Quando escrevemos, quem é que escreve? Quem é que, através da nossa mão, se exprime? Quem? Não sei. A gente só tem perguntas, e quando encontra respostas elas transformam-se em novas perguntas. Então, nunca faremos o livro que queremos, porque pode-se sempre ir mais longe. E, se conseguirmos trazer uma coisa que achamos nova, percebemos que essa coisa é uma porta que dá para outra coisa ainda, e outra, e outra, e outra...





Quem é que o António lê hoje?

Nós temos poetas contemporâneos de grande qualidade. O Vasco Graça Moura é um grande poeta. Um, que descobri há relativamente pouco tempo: Manuel António Pina. É muito bom. António Franco Alexandre. É muito bom. E estou a esquecer-me de nomes. Pedro Tamen. Infelizmente nas traduções de poesia, essa qualidade não passa. Mas eu gosto tanto de ser português, pá. Gosto de Portugal. No aeroporto, conheço logo a bicha do avião que vem para Portugal: são os mais feios, mais pequenos, mais escuros. Mas gosto. Gosto do nosso mau gosto. Gosto. Há um lado meu que adora essas coisas: cães de faiança, molduras de talha. Gosto. Quadros de palhacinhos a chorarem, de gatinhos a saírem de botas. Gosto. Um livro sem mau gosto é mau.









Em De Profundis, José Cardoso Pires fica sem memória; em Sôbolos Rios Que Vão, a memória é tudo o que resta ao sr. António Antunes. É mais cruel perder a memória ou conservá-la, sabendo que, como diz o poema de Camões que dá título ao seu livro, «todo o bem passado...»

Ah, sim, «...não é gosto, mas é mágoa». [Pausa.] Não sei responder. Era uma mistura de emoções. [Pausa.] Sabe, na semana passada, disseram-me da editora que uma senhora que tem um cancro em fase terminal gostava que eu lhe assinasse os livros. Ou, o ano passado... recebi um telefonema de França. «Está? Chamo-me Jean Daniel.» Jean Daniel era um ídolo da minha juventude. Diretor do Nouvel Observateur. Foi através da crítica literária do Nouvel Observateur que vim a saber do boom sul-americano, que estava a acontecer nessa altura. Portanto, era um homem a quem eu devia muito. E o senhor telefona-me e diz: «Eu tenho 89 anos e gostava de o conhecer antes de morrer.» Isto é tudo tão comovente, não é? Tenho tido muita sorte. E depois são os amigos desconhecidos. No outro dia, estava à procura de uma rua até que entrei num cafezinho pequeno para perguntar. Dois homens levantaram-se e levaram-me lá. O que isto vale... Diga lá se uma pessoa merece isto... Não merece. Tinham lido os livros, é extraordinário.





No segundo capítulo, o da operação, o jogo com os tempos de que falava há pouco é mais intenso. Há uma espécie de «chuva oblíqua» entre Nelas e o hospital em que, ainda mais do que no poema do Pessoa, é evidente que o tempo passado e o tempo presente se misturam e criam um outro tempo, um terceiro tempo que é a fusão dos dois.

Foi muito difícil escrever esse capítulo, não sabia como havia de fazê-lo. [Pausa.] Concordo consigo, os tempos misturam-se e há um outro tempo.





Quem está naquela cama, em Santa Maria, é o sr. António Antunes ou o Antoninho? Quem morre, quando se morre? O velho que vemos no hospital ou uma criança que já não existe mas que continua a ocupar o espaço da memória, a lembrar-se dos balões dos «Armazéns Victória Tudo Para a Mulher Moderna», de uma estrangeira loira que havia num hotel - ou de um trenó que tem escrito Rosebud?

Ah! Não tinha reparado nisso.





Sabe qual é o seu balão, a sua estrangeira loira, o seu trenó?

Não sei... [pausa]. Não tinha pensado nisso. Sabe, o Orson Welles disse uma coisa que foi importante para mim: «Há duas coisas que nunca filmo: pessoas a fazerem amor e pessoas a rezarem.» Não há uma descrição de sexo num livro meu. [Pausa.] Esse filme [Citizen Kane] é um milagre. Um milagre. A gente fica com aquela inveja saudável. E, ao mesmo tempo, com orgulho. Um grande artista devolve-nos uma imensa dignidade. Eu vejo sempre o concerto de ano novo, com música do Strauss, e comovo-me até às lágrimas. É uma tal vitória sobre a morte, a música do Strauss... É preciso acreditar nas pessoas. As pessoas são tão mais ricas do que elas mesmo pensam. Nós parecemos viúvas pobres: vivemos em duas assoalhadas com serventia de cozinha. E procuramos a porta em paredes que sabemos que não têm porta, e temos medo de abrir as janelas. E, depois, há assim uns cabrões, como o Strauss, que fazem isto por nós.






Há um livro da Susan Sontag (A Doença e as Suas Metáforas) em que ela diz que a antiga ideia romântica que tínhamos da tuberculose, segundo a qual a doença era provocada pelo caráter do doente, subsiste hoje, mas agora em relação ao cancro. Que a vítima é, ao menos em parte, culpada. Sentiu isso?

Isso é tão verdade que eu tinha vergonha. Por exemplo, eu podia pagar menos IRS se invocasse o cancro, e fui incapaz de o fazer. Tinha vergonha. Era uma inferioridade minha. Só pensava: que diferente que isto é da guerra. Porque, na guerra, há uma coisa que está fora de mim e eu posso dar-lhe um tiro. Aqui, não posso fazer nada. Lembro-me de, quando estava a fazer radioterapia, dizer: «Morre, morre, filho da puta.» Insultava o cancro. [Risos.]





É como diz no livro? «Pode ter-se um cancro e estar alegre, ora essa» (pág. 19). Se calhar, nem há outra maneira.

Eu, infelizmente, não sou uma pessoa feliz nem alegre. Tenho dois ou três amigos que são, e tenho uma inveja imensa deles. Primeiro, porque pertenço à classe dos eternos culpabilizados. Culpado de tudo. E, depois, às vezes, penso: porque é que a gente sofre tanto? E sofrer por nadas.







Logo no início do livro, diz-se: «que terrível e cómica, a morte» (pág. 14). O facto de ser cómica faz com que seja ainda terrível ou torna-a menor aos nossos olhos e por isso mais fácil de enfrentar?

Ó Ricardo, não sei, ainda não morri. Mas a gente não pode levar a morte a sério. Há que aceitar a morte como a impostora que é. Uma vez perguntaram ao Hemingway o que é que ele achava da morte, e ele disse: «Outra puta.» E venceu-a. Ele dizia: um homem pode ser destruído, mas não pode ser vencido. [Pausa.] Tinha razão, não tinha?»

quarta-feira, novembro 03, 2010

Serenidade

Sonho mudo,
calmo e suave,
sereno na tempestade
que há no mar (que há em mim)...

Vem a corrente do norte
e vem a corrente do sul,
e um dia virá também a morte
e o meu sonho deixará de ser azul.

Cúmplice

Cúmplice no olhar
cúmplice no sorriso
cúmplice na dor
cúmplice na alegria
cúmplice de mão dadas
cúmplice na partilha...

Ser missionário é ser cúmplice!

Não depende, exclusivamente, de nós

Há coisas que não dependem exclusivamente de nós... Façamos o que fizermos elas continuam a seguir o seu caminho e a ser «comandadas» pelos outros. Porque, mesmo que dê-mos o nosso melhor, se os outros não quiserem sentir, não sentirão, não mudarão, mesmo que nós mudemos. E, a isto, chama-se impotÊncia, falta de liberdade ou algo que nem nome tem... pois, não somos donos do nosso destino (se é que ele existe), as coisas não acontecem porque nós queremos e as pessoas nunca são como as sonhamos e, pior, como as conhecemos.

Partir e voltar

Afastei-me e hoje, vou regressar... Estou nervosa, confesso. Tenho medo das reacções dos outros, tenho medo de sentir que já não faço parte, que já não pertenço ali... Mesmo assim, inunda-me a esperança e a alegria!
É o reencontrar pessoas e momentos, é voltar para algo me fez feliz e me enche.
Sei que nada vai voltar a ser o memos, mas espero que a mudança seja positiva e dê fruto.






Hoje percebi-te, amigo... o medo de voltar, é saber que nada voltará a ser o mesmo, que os momentos e pessoas perdidas estão diferentes e não regressarão... voltar é sentir, efectivamente, a perda, é ter certeza dela (e dói demasiado).

DespertaR

Nunca despertamos os sentimentos que queremos, mas despertamos sempre o que os outros sentem por nós.

Tudo ou nada?

O que tenho pr'a te dar é tudo, mas  não é isso que tu queres, não é isso que me pedes...
Pedes-me mais, pedes-me menos, mas eu isso não posso dar-te.

Só posso dar-te tudo, na medida certa (não exacta).

Entre

Entre o frio que fica
e o frio que passa
está o sol que nos aquece
e o horizonte que nos abraça.

A noite disse que não,
mas a lua afirma que sim
e eu quisera não ter coração
e eu quisera poder viver sem mim...

Entre linhas

Entre linhas viaja
o que me é proíbido dizer.
São sonhos, são esperanças
que eu não quero esquecer...

No mar ou deserto,
nas estrelas e luar,
meu coração passou perto
de tudo o que é lugar...

Passou da porta e não entrou
andou à chuva, mas não molhou...
fez tudo e não fez nada
e segui um caminha
que nunca teve estrada.

Ah a vida é pássaro ferido na asa!
É barco sem porto seguro
que brinca e finge que a vida não passa
que apenas constrói um muro!

E entre linhas viaja
o que a vida não nos deixou viver.
São sonhos, são esperanças
que no papel, nos sentem envelhecer...

Pensamento

O pensamento tem a capacidade de nos transportar para outro mundo. Esse mundo pode ser perfeito, mas também há a forte possibilidade, especialmente para quem gosta de viajar, de esse mundo ser um lugar angustiante que derrama sangue no chão e deixa respostas mortíferas e, como se não lhe bastasse, levanta outras tantas questões, também elas com a capazes de nos levar à loucura.

Viajando entre linhas

Viajando entre linhas, as cópias dos meus passos vão amarelecendo... o velho diário, único amigo fiel, esconde e revela os meus segredos: os sorrisos calados, os gritos escondidos, os abraços não sonhados, os beijos adormecidos.
No fundo, um livro escrito por mim, um livro de histórias, velhas memórias e recordações, o livro da minha vida!
 É por isso, que o livro me conhece melhor que eu mesma... que te conece melhor que eu...

Morrer e amar

Talvez amar e morrer sejam a mesma coisa... Quando amamos destruímos o «eu» que existia e renascemos num novo «eu»... destruímos também a pessoa amada...
 O amor destrói e contrói, mata e cria... no fundo, a morte e o amor estão intimamente ligados. Quem não morre não ama, pois amar implica morrer e renascer para uma vida completamente nova.

segunda-feira, novembro 01, 2010

Resignar-me a ser quem sou?

«Sabia que estava só a tentar disfarçar a decepção, sabia que não suportaria regressar aos gestos e aos pensamentos de sempre, era como se tivesse estado a ponto de embarcar à descoberta da ilha misteriosa, e no último instante, já com o pé na prancha, lhe aparecesse alguém de mapa estendido: não vale a pena partires, a ilha desconhecida que querias encontrar já está aqui, repara, tanto de latitude, tanto de longitude, tem portos e cidades, montanhas e rios, todos com os seus nomes e histórias, o melhor é resignar-se a ser quem és.»

 Não me resigno. Não me conformo.
 Para quê resignar-me a ser quem sou, se posso sempre ser diferente, ser mais, ser melhor? Se há um mundo de possibilidades e, a ilha desconhecida, por mais encontrada que esteja, tem sempre algo mágico por descobrir?

Podes até ter descoberto a ilha desconhecida, mas nunca descobrirás o total do seu «conteúdo», pois julgas, estupidamente que, uma vez encontrada, não há necessidade de procurar... Logo, nunca  a descobrirás.
« Quem somos nós para falar de consequências, se da fila interminável delas que incessantemente vêm a caminho na nossa direcção apenas podemos ver a primeira?»