Quero o silêncio
e sonho com o dia em
que vou rasgar as palavras
Há algo que nasceu dentro de mim
e não tarda saltará cá p'rá fora!
Vai inromper a qualquer momento,
arrombando assim as portas do coração,
partindo o telhado de vidro,
ferindo a carne, com tantos vidros no chão...
A casa vem a baixo
porque a menina gritou,
nunca importa aquilo que que eu acho
mas o meu momento,esse finalmente chegou!
Há pó para fazer barro
e mãos para trabalhar,
sei bem que amar sai caro
mas a vida pode sempre mudar
A casa veio a baixo
porque a menina gritou,
nunca importou aquilo que acho,
mas o meu momento, finalmente chegou!
O momento é meu,
sempre o foi, desde que nasci
porém, alguém o roubou e, não
rouba mais só porque cresci
Pensei que o objectivo
era uma casa construir
mas, se usei os materiais errados,
vou sempre a tempo de desistir...
A casa veio a baixo
o mundo silenciou
ficou o vento, fumo
e sombra quente,
onde o meu amor andou!
Sempre lá estive mas,
nunca lá vivi
a primeira vez que
entrei foi hoje,
a saber o que destrui
Vejo ruínas, fumo, fogo
e sombra
Faz frio, faz calor...
Piso os vidros e a alma sangra
um líquido que não tem cor
A casa caiu porque
um anjo chorou,
e a menina fugiu,
finalmente gritou!
Provei a vida e foi difícil
que bem mais facil seria morrer
Risquei o teu nome da parede,
foi estranho, fez-me sofrer...
Os muros ruiram
as paredes caíram
a casa toda tombou
mas as janelas abriram
e o meu amor entrou
Abriram de par em par
não porque a menina gritou
mas, para o meu amor entrar
que foi minh'alma quem o chamou!
São Plácidas Todas as Horas que Nós Perdemos
ResponderEliminarMestre, são plácidas
Todas as horas
Que nós perdemos,
Se no perdê-las,
Qual numa jarra,
Nós pomos flores.
Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
Não a viver,
Mas decorrê-la,
Tranquilos, plácidos,
Lendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza...
À beira-rio,
À beira-estrada,
Conforme calha,
Sempre no mesmo
Leve descanso
De estar vivendo.
O tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase
Maliciosos,
Sentir-nos ir.
Não vale a pena
Fazer um gesto.
Não se resiste
Ao deus atroz
Que os próprios filhos
Devora sempre.
Colhamos flores.
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.
Girassóis sempre
Fitando o sol,
Da vida iremos
Tranqüilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa