Em Memorial do Convento, a acçaõ desenrola-se em três planos: o plano do Rei, o plano do Povo e o plano da construção da passarola. Estes três planos estão intimamente relacionados, pois é o Rei quem dá a ordem para construir o convento, é o povo quem executa essa mesma ordem e sofre as consequências que advêm da decisão real e, a construção da passarola dá-se em paralelo com a construção do convento de Mafra.
É através destes três planos que se vão desenrolando, em paralelo, através de metáforas e comparações, que se destacam as diferenças entre o trabalho forçado e o trabalho pelo sonho. A construção do convento refelcte os homens escravos da sociedade, do Rei, da Igreja e dos seus preconceitos face à liberdade plena de ser, no senido mais amplo da palavra. Evidencia-se ainda, a grande diferença entre os casamentos polítos (ex: Rei e Rainha) e a união verdadeira e completa, o amor genuíno reflectido em Blimunda e Baltasar.
Considero que através destas dicotomias e até de toda a acção da obra, José Saramago critíca fortemente a sociedade da época que, infelizmente, não é muito diferente da sociedade contemporânea.
Saramago critíca tudo o que nos aprisiona e coage a não Ser: o dinheiro, o orgulho, a aparência, casamentos políticos\de conveniência, a ambição desmedida, o abuso de poder, a falsa fé, entre outras. Desta forma, o «Memorial do Convento» é um livro que apela à verdade, que nos faz reflectir constantemente sobre quem somos, quem devíamos ser e quem gostaríamos de ser (o que nem sempre, ou quase nunca, coincide). Acredito que, num momento ou noutro, todos acabamos por nos rever em alguma das personagens.
E por falar em personagens, aproveito a deixa para referir que as minhas personagens preferidas são Baltasar e Blimunda. O que me cativa nelas é que, são indissociáveis, uma sem a outra, seriam personagens completamente diferentes (não seriam Baltasar e Blimunda). É também curioso que os heróis desta obra sejam anti-heróis uma vez que vivem à margem da sociedade: Blimunda tem poderes sobrenaturais, é uma mulher livre, pensadora e, Baltasar é maneta. Porém, Saramago «prova» que não são estas característica fisícas que fazem de nós quem somos mas sim. a atitude que tomamos perante a vida e as situações com que nos deparamos. Para além disso, o facto de Baltasar se maneta e superar essa dificuldade, valoriza-o ainda mais. Esta personagem leva o sonho ao extremo, morrendo por ele.
Na minha opinião, Blimunda e Baltasar são modelos a seguir na medida em que se mantêm fiéis a si mesmos e um ao outro, apesar de não existir um contracto ou qualquer tipo de promessa, estão juntos simplesmente porque querem e porque se amam.
Concluindo, a obra termina com o auto-de-fé em que Baltasar morre injustamente e que, serve para criticar não só os aoutos-de-fé da Inquisição, mas também, os autos-de-fé que todos vamos tendo nas nossas vidas, as injustiças do mundo que irão existi sempre :( No entanto, nem a morte tem a capacidade de separar Blimunda e Baltasar («Desprende-se a vontade de Baltasar Sete-Sóis, mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia e a Blimunda.»).
It's Beautiful
Sem comentários:
Enviar um comentário