Sabia apenas uma coisa: fazia aquilo que fazia porque procurava uma verdade, uma resposta auto-suficiente e universal que calasse aquela explosão de dúvidas que trazia comigo. Por vezes, parecia mesmo que ia explodir.
Mas eu procurava lá fora e quanto mais procurava menos encontrava, menos sabia, mais duvidava, mais me perdia...
Chovia, o Inverno aproximava-se. A Natureza concordava com o meu estado de ânimo e, mais uma vez, provava que o Verão chegara ao fim, que o tempo passa e é condição de qualquer acontecimento fugaz.
Sabia que se o tempo não passa-se eu não viveria, não encontraria a tal resposta, não haveria espaço para nada acontecer. Porém, de uma forma estranha e contrasitória, era natural em mim não querer nada, excepto a paragem do tempo.
Mergulhada na escuridão, embebida no espaço e no tempo, urgia tomar uma atitude. A hora tinha chegado.
Desci as escadas, ainda havia uma réstia de luz, como se algo me estivesse a dizer que havia uma saída. Mas depressa se esvanecia este sentimento quando entrava no quarto como o jantar.
Lá estava ela naquela masmorra escura e húmida, rodeada de velas, santos, cruzes e incensos. Tinha sempre a sensação que entrava num cemitério e, quando me aproximava da cama para a alimentar era-me quase impossível contemplar aquele rosto de mármore frio, duro, pouco lustroso, um tanto ou quanto enrugado... afinal talvez fosse um rosto granítico. O olhar langue, inexpressivo, vazio. Não dizia nada, não sorria, não vertia uma lágrima, não se movia para além do necessário para ingerir os alimentos.
Não sei porque é que me obrigava àquele ritual diário nem como me era suportável fazê-lo quando todas as minhas células gritavam, vomitavam e fugiam daquele lugar.
Terminou a sopa e cerrou os olhos, era a sua maneira de me expulsar do seu aposento mórbido.
Beijei-lhe a testa e sai.
Sem comentários:
Enviar um comentário