De repente ficamos mudos, faz-se silêncio. É a Terra a chamar por nós, são todas as forças naturais que nos obrigam a fazer silêncio num sinal de respeito para com a sua beleza transcendente e, também, para que a consciência possa ter voz.
Ouvem-se ao longe gaivotas e o rebentamento das ondas sempre que o mar beija a terra. Não há mais nada, não precisamos de mais nada.
Mas o ser humano é assim, não compreende ou finge não compreender estas coisas e esforça-se para perceber outras. Talvez seja por isso que alguém perguntou:
-«Se algum dia me transformar em vento, serás capaz de me encarar como aquela essência indomável que a natureza quer junto de si, e de me perdoar por me ter ido embora?» - ao que outro responde:
-«Teria de perdoar. Não quero prender ninguém a mim. Se se prender tem de ser por escolha.»
-«E se eu fosse embora, mas continuasse presa a ti?»
-«Então, nunca terias ido embora realmente.»
-«Tu és a minha escolha.»
-«O amor verdadeiro resulta de uma escolha nossa. E nós temos algo raro de encontrar nos dias de hoje: um amor genuíno.»
Volta a fazer-se silêncio. Restava a chuva que tinha começado a cair sem que dessem conta e que entertanto se adensava.
-«Temos que nos abrigar!»
-«Eu gosto de estar à chuva!»
E assim, ficaram abraçados enquanto a chuva e a brisa se transformavam em tempestade.
Era o último abraço.
Transformava-se em vento a mulher que ainda há pouco o abraçava, com quem há instantes tinha falado e fixado os seus olhos verdes. Desfazia-se como uma duna em tempestade de areia no deserto a matéria que outrora fora real. Precipitava-se no vento e participava nele, agora sem o mínimo vestígio da sua existência.
A chuva pára de cair, a tempestade cessa e abre-se um céu limpo e azul debaixo de um sol radioso.
Agora, a tempestade existe dentro de si.
-«Vou estar sempre aqui para te proteger.»